A Dificuldade

A Dificuldade

A DIFICULDADE

Não é fácil fazer avançar um movimento de cidadãos ou algo que se lhe assemelhe.

As pessoas têm as suas ocupações, pelo que não têm muita disponibilidade de tempo.

Por outro lado, há a necessidade de congregar esforços, o que é quase sempre bastante difícil, pois mesmo que partilhem uma determinada posição ou causa, as pessoas não se conhecem ou não se contactam umas às outras a não ser de forma superficial na forma do convívio social, por regra.

Também o facto de as pessoas tenderem a ser descrentes em ideias ou propostas que não venham da estrutura social estabelecida (muitas vezes com razão, dada a falta de coerência e consistência de muitas das propostas que vêm de fora) dificulta muito a congregação de esforços.

É, além disso, inevitável algum nível de exposição pública por parte de quem se dispuser a liderar o processo, o que a maioria das pessoas tende a recusar, por razões compreensíveis (ainda que também haja o inverso por parte de alguns – a busca da notoriedade pública).

E, mesmo quando há uma causa que justifique a acção, muitas vezes a adesão é mais impulsionada pelo seguimento de alguma figura pública ou carismática do que pelo valor da própria causa.

Por fim, para se sair da rotina da vida corrente e da mera conversa social entre amigos e conhecidos é sempre necessário vencer a poderosa força da inércia.

Além de todos estes factores, há que considerar também o facto de, na esfera politica, o sistema instalado, quer pela sua própria natureza, quer por opção deliberada dos seus protagonistas, procurar remeter a participação do cidadão comum exclusivamente às eleições. E estas são quase totalmente dominadas por eles, como é sabido, através das suas máquinas partidárias, da utilização dos media, e da contratação de profissionais em manipulação da opinião pública - os profissionais e as equipas ou empresas que se dedicam ao planeamento e condução de campanhas eleitorais, em paralelo com acções de condicionamento dos cidadãos noutras áreas, nomeadamente na área do consumo.

Assim sendo, para que os cidadãos exerçam uma verdadeira cidadania na área política é necessário que tenham consciência de todos estes factores e façam a opçção por os contrariarem e por tomarem posição para se libertarem dos condicionamentos do sistema vigente (logo, das consequências a que eles conduzem, bem conhecidas de todos), por oposição a deixarem-se simplesmente conduzir pelo sistema instalado.

O reverso da medalha é que uma sociedade é o que forem os seus cidadãos. Se os cidadãos são descrentes, se se deixam levar pela inércia e pelo sistema instalado, sofrerão necessariamente as consequências dessa opção, como será já claro para a grande maioria das pessoas. Acaba por haver sempre alguma justiça relativa entre os cidadãos – os que zelam pelos seus interesses, alcançam-nos, os que apenas se queixam das injustiças e quase se recusam a zelar pelos seus próprios interesses, esses são sucessivamente enganados por quem promete uma coisa nas eleições e assim que ocupa o lugar para que foi eleito com base no que prometeu, faz exactamente o contrário; e continuam apenas a queixarem-se.